A viagem 23 de Hans Christian Andersen

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A viagem 23 de Hans Christian Andersen

A viagem 23 de Hans Christian Anderseni

José Maria Albuquerque

Hans Christian Andersen (HCA, 1805-1875) visitou Sintra e Monserrate no Verão de 1866, mais precisamente de 26 de Julho a 8 de Agosto faz agora, portanto, 150 anos [1]! Hóspede de José O’Neill, viera a Portugal a convite deste e de seu irmão Jorge, ambos seus companheiros de juventude na casa do almirante Wulff, em Copenhaga [2]. Jorge prometera mostrar-lhe “Sintra e as suas belas moças!”[3]. Ele veio. Tinha HCA sessenta e um anos, era um viajante experimentado e um autor já de renome internacional.

“Li tudo o que pude encontrar sobre Portugal “[4] e escreve “diz-se que todo o estrangeiro poderá encontrar em Sintra um pedaço da sua pátria. Eu descobri a Dinamarca (...) [5]. Depois, com muito mais detalhe:

 (…) De carruagem demos uma tarde um passeio pela estrada, sob a sombra das árvores frondosas, passamos pelo palacete” Monte Cristo”, pela quinta do Vice-Rei, onde se guarda o coração de Inês de Castro e fomos até Monserrate, propriedade de um inglês riquíssimo que aí apenas reside dois meses na primavera. No jardim cresce livremente uma imensidade de plantas tropicais. Vi um bosquete com as mais notáveis espécies de fetos, desde os mais pequenos aos mais desenvolvidos em viço e grandeza, lado a lado com palmeiras. Grandes campainhas brancas pendiam de uma árvore, bagas preladas cor-de-rosa de outra. Frutos sumarentos que não conhecia e flores de vivo colorido exibiam-se em cima, e em baixo sobre um belo relvado de verde-veludo murmurava a água cristalina da fonte, para aí canalizada a fim de que não faltasse frescura à erva. Ao alto de toda esta viçosa frescura ergue-se o palácio em estilo mourisco, verdadeira vinheta das “Mil e uma Noites”, uma visão de contos de fada. O sol ia descendo no jardim que tomou tons rosa e parecia estender-se e avolumar-se, luzindo com mágico brilho nas paredes e decorações de branco marmóreo e fazendo chamear os vidros grandes das janelas como espelhos de cristal. O ambiente era tão cálido, tão penetrado do odor das flores, que nos sentimos transportados para fora da realidade, arrebatados, só voltámos a nós próprios quando penetrámos no umbroso sobral próximo. Aí encontrámos e saudámos o jovem casal real (…) [6].

Quanto às “belas moças”, parece HCA ter somente se agradado das de Aveiro: “o povo diz-se descendente de gregos, e isso vê-se nas mulheres, são as primeiras verdadeiramente belas que em geral até agora vi em Portugal (…) [7]. Mas os tempos eram outros. Não escrevera ele no seu diário a 5 de Maio, mal chegado a Lisboa, vindo de Madrid por diligência “foi como ter saído da idade média para o presente”[8]…

 


Referências

[1] "The Life of Hans Christian Andersen. Day By Day", written by DPhil Johan de Mylius, H.C. Centret: http://andersen.sdu.dk/liv/tidstavle/vis_e.html?aar=1866

[2] H.C. Andersen; trad. S. Duarte, “ Uma Visita em Portugal em 1866”2ª ed., Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação, 1984.

[3] ibidem, pg.96.

[4] ibidem,pg.95.

[5] ibidem, pg.78.

[6] ibidem, pg .81.

[7] H. C. Andersen, carta a Carl Steen Andersen Bille http://andersen.sdu.dk/brevbase/brev.html?bid=18725&s=k3vu2m6isp4d8fruqb093p3hl3&st0=cintra&f0=7

[8] "The Life of Hans Christian Andersen. Day By Day", written by DPhil Johan de Mylius, H.C. Centret http://andersen.sdu.dk/liv/tidstavle/vis_e.html?date=1866-00-00&kvartal=2

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