"Ottoman chic" de Serdar Gülgün

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"Ottoman chic" de Serdar Gülgün

As referências às influências orientais na arte e na arquitectura europeias, no que a Portugal respeita, tendem normalmente a falar em árabe ou neo-árabe, esquecendo que boa parte dessas influências a nível europeu, nos dois séculos precedentes, eram igualmente turcas ou otomanas, o que dá no mesmo, ou mogóis. O fascínio mútuo que a partir do séc. XVIII, mas sobretudo no séc. XIX, exerceram entre si a arquitectura europeia e a arquitectura otomana ou mogol, consoante as regiões da Europa e as suas ligações específicas - mais ou menos pacíficas - às primeiras, não deixam de encontrar um eco no ecletismo de Monserrate, entre a arquitectura exterior do palácio e as cúpulas, o arco indiano do jardim, os biombos vazados da entrada, etc, etc. Mesmo o fascínio por Granada e pela sua gramática decorativa, de que muitos estuques em Monserrate dão testemunho, integram um orientalismo culto que reúne elementos de todo o mundo muçulmano, e que a influência política e cultural vitoriana, a par da contribuição estética da França de Napoleão III, vão ajudar a internacionalizar.  Os Cook, bons súbditos da futura neo-Imperatriz da Índia eram também potentados comerciais com interesses no Egipto dos Khedivas, formal e culturalmente dependentes do Sultão de Constantinopla (ou Istambul, conforme os gostos) e as imagens que temos da decoração do palácio de Monserrate, romântica e orientalizante como era, não difere em muitos aspectos da decoração que, por essa altura, estava em voga nos círculos mais ilustres do Império Otomano, mutatis mutandis no que a assentos diz respeito, mais sofás e tapetes de um lado e cadeiras do outro. Basta ver as fotografias da sala de jantar dos Cook com panejamentos suspensos a imitar uma tenda para perceber como essa atracção mútua era forte.

O tema do livro 'Ottoman Chic' é esse mesmo, o do interior otomano elevado à sua potência máxima no restauro de um kosku - uma casa otomana em madeira, palavra de onde provém o nosso quiosque - contemporâneo do palácio de Monserrate de Francis Cook, restauro esse promovido há alguns anos por um importante designer, coleccionador e decorador turco, Serdar Gülgün. Sendo o construtor deste antigo pavilhão de caça um pasha de origem húngara, Feizullah, antes Kohlmann, que se refugiou e fez carreira na Turquia Otomana depois da Insurreição Magiar de 1848 contra os Habsburgo, a casa de Serdar Gülgün é um bom exemplo de como se cruzavam as influências arquitectónicas e decorativas europeias com a manutenção da divisão tradicional da habitação turca ou muçulmana, que impunha a separação da zona exclusiva das mulheres, o haremlik, da zona reservada aos homens e à visitas, o selamlik. Se o edifício em madeira, pousado numa colina na margem asiática do Bósforo não longe de um palácio imperial e numa zona histórica de casas de veraneio - outra analogia com Monserrate -  não tem a solidez nem a complexidade pétrea do nosso palácio de Sintra, a colecção, em compensação, é de nível museal, ou não tivesse o maître de maison sido curador de mais do que uma exposição no Topkapi, e emprestador habitual de peças para exposições na Turquia ou no estrangeiro. 
Um dos interesses deste livro, para além de nos fazer perceber que o Monserrate dos Cook se insere num movimento muito mais vasto geograficamente do que o habitualmente nomeado, é precisamente o de alternar nas suas páginas as imagens da casa, dos seus interiores e dos objectos que a povoam com as suas inspirações e as referências decorativas, desde os ambientes dos palácios dos Sultões a fontes históricas gráficas que guiaram Serdar Gülgün na reconstituição de um ambiente otomano.
E se o livro não se encontra à venda facilmente em Lisboa, sendo a editora uma das mais importantes do mundo no que a arte diz respeito, é fácil obtê-lo com uns quantos cliques no teclado do computador e recebê-lo directamente em casa. Por um custo razoável para um livro encadernado a seda, com 150 páginas de imagens e fotografias num total de 300, podemos oferecer-nos uma fantasia de Natal nas margens do Bósforo…
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