Texto enviado por João Freitas

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Texto enviado por João Freitas

EM 1796 e 1797 William Beckford publicou duas novelas satíricas escritas sob pseudónimos, onde troça dos escritores de novelas então em moda em Inglaterra e da política inglesa baseada no medo que surgissem ventos revolucionários vindos de França, o que tinha levado à redução das liberdades individuais.

Da segunda destas novelas, intitulada Azémia, e nunca traduzida para português, retirei o pequeno trecho que se segue onde se revela uma “escritora” preconceituosa, chauvinista e com opiniões muito próprias sobre a liberdade de pensamento ou como prefere dizer a “liberalidade de inquirir”. 

Azemia tinha, logo numa tenra idade, sido prometida a Oglow Muley, um rico comerciante, que, evidentemente, era também Maometano. Ele comerciava principalmente para os portos de Livorno e Marselha, onde entre os mercadores Cristãos, com os quais negociava, encontrava tal integridade, bondade, humanidade, caridade, e outras virtudes próprias do mundo Cristão, e super-eminentemente evidentes entre eles, que nada teria tido tanta força para destruir os ridículos preconceitos que tinham sido incutidos em Oglow Muley pela sua educação, uma vez que não abraçava a fé dos Nazarenos. 

A liberalidade de inquirir, no entanto, é quase desconhecida entre os muçulmanos, e por princípio é certamente algo que é muito mais seguro usar noutros países, apesar de ser satisfatório nada querer com ela, pois tem seguramente muitos efeitos perniciosos: reduz a quantidade bruta de ignorância natural; torna os homens muito tolamente descontentes com o seu destino, que foi muito indubitavelmente forjado para eles com todos os cuidados e até aos mais pequenos pormenores pelas acertadas leis eternas do direito; provoca comentários muito impertinentes sobre a conduta daqueles cuja elevação os coloca acima dos políticos de vistas curtas e da multidão indistinta; e provoca naqueles que se entregam a ela, um desejo incontido de fazer sugestões impróprias, como “as coisas poderiam ser melhores”. 

Ora considerando que não é um eminente estadista, iluminado pelo sol radiante do favor real e imperial, que nada sabe, e que não está preparado para provar, que tudo, absolutamente e positivamente tudo, acontece pelo melhor, e que a pobreza e os trapos, a fome e a nudez, os afogamentos, as mortes de peste, ou os perecimentos resultantes de ferimentos, juntamente com outros incidentes demasiadamente números para serem comentados e demasiadamente comuns e insignificantes para serem tidos em conta, e que não são males, nem foram causados por qualquer acção, mas fazem parte dum invariável esquema de inexplicável sabedoria, que mais tarde ou mais cedo faz surgir o bem do mal, e torna até a mais pequena e meramente aparente inconveniência, que leva o lamuriento inquiridor a murmurar, no que acabará por se tornar num factor de engrandecimento, de prosperidade, de poder e glória, do nosso querido país, que é, sem qualquer dúvida, o melhor de todos os países em que pudéssemos pensar, onde acontecem estes super excelentes arranjos, e que é governado pelo mais humano, benevolente, sapiente e magnânimo monarca, que dirige os mais sábios, mais filantrópicos, desinteressados, e mais bem sucedidos ministros que mereceram a confiança dum soberano. São estas razões (que a mim me parecem incontestáveis), que levam a que todos os leais e valorosos ingleses evitem perder tempo com perguntas especulativas. 

Voltemos então a Oglow Muley, que, sendo turco, nunca colocou nenhuma destas questões.

No próximo dia 22 de Junho, antes da nossa Assembleia Geral falarei um pouco destes livros e darei a “receita infalível” da autora para resolver os problemas financeiros do estado inglês, que tinha na altura um problema de dívida excessiva.

Terão estes livros sido inspirados na visita que William Beckford fez a Portugal em 1794 e em que residiu em Monserrate?

Será que a receita para resolução dos problemas financeiros se pode aplicar com ligeiras alterações ao nosso país?

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